Podcast D30

Regras vs. Interpretação (?)

Algum tempo atrás, procurando uma forma de jogar RPG como jogador – algo que não faço há tempos – comecei a sondar grupos diferentes com tempo e vontade de jogar uma campanha, mesmo que curta de qualquer coisa. Conheci um mestre de D&D que parecia disposto e conversei com ele sobre o assunto, expondo meus interesses numa partida e/ou campanha. Não deu muito certo.

Eu gosto de manter o equilíbrio entre regras e interpretação (roleplay) em minhas campanhas. Não sou fã de regras super complexas que permitem realismo extremo ou estão lá simplesmente para preencher tabelas e mais tabelas, só para dar um ar de superioridade a um sistema. Quando mestro, utilizo as ferramentas que o sistema me fornece e se esta ou aquela regra impedem uma idéia interessante e inovadora de um jogador, dou preferência ao roleplay. O mestre em questão não gostou desse meu estilo dizendo que se as regras estão lá é para serem seguidas e assim manter o equilíbrio do jogo. Me pareceu alguém que dava às suas aventuras um foco em combate e números e não em background ou interpretação de personagens, a base do jogo de RPG.

No caso de quem gosta de seguir as regras, o sistema, se bem feito, ajuda bastante. Há tabelas ou regras que resolvem qualquer dúvida e referências para fazer com que os personagens sejam otimizados ao ponto de serem perfeitos em combate. Regras também ajudam a criar uma escala de evolução para o personagem e ainda podem fornecer dados excelentes para combate ou até mesmo fabricação de itens dentro do jogo.

Por outro lado, as regras muitas vezes impedem com que idéias criativas sejam postas em prática, como eu disse acima. Muitas vezes, por falta de uma regra, alguns mestres simplesmente negam pedidos ou criações dos seus jogadores. Esse é o erro. Um bom mestre deve saber quando dobrar, alterar ou simplesmente suprimir uma regra em prol do bom divertimento. Não que o jogo deva ser simplesmente interpretação ou que os criadores de regras mereçam queimar na fogueira junto com seus livros (!). Muito pelo contrário! Regras fazem de um sistema algo único também. O que seria de alguns famosos como GURPS, Role Master e outros, que possuem regras complexas e ainda assim são divertidos?

A cada dia surgem mais e mais RPG’s indies ou não, com regras simples ou complexas. Porém, muitos apostam nas regras simplificadas comuns a esses sistemas independentes (The Shotgun Diaries, Malditos Goblins, etc) pela facilidade em ensiná-las aos jogadores, dando ênfase ao roleplay. Não é de todo errado mas ainda acredito no equilíbrio.

Gosto de roleplay acima das regras mas um sistema simples demais não me agrada para uma campanha. Talvez para uma aventura one-shot (uma tarde ou em eventos) mas nunca para uma campanha onde quero que os personagens evoluam não apenas como parte de uma história mas também como personagens hábeis e com detalhes, mesmo que numéricos, que agradem aos jogadores que gastam tempo pensando em como deixá-los mais e mais poderosos.

O título deste post pode soar contraditório para alguns que, como eu, não enxergam as duas formas de RPG como antagônicas. No entanto, é o que muitas pessoas fazem em suas mesas de jogo. Como eu disse no início do artigo, o importante para uma boa partida ou campanha de RPG é que esta agrade a todos, visto que numa mesma mesa de jogo há tantos “atores” quanto “wargamers”.

Acima de tudo, divirtam-se!

 

Eugênio “Gene” Cavalcante gosta de ser diplomático e ainda matar personagens em suas campanhas…