Música ambiente para jogos de Fantasia Sombria

“Cada vez mais alto, cada vez mais selvagem, continuavam os gritos e lamentos da desesperada viola. O músico estava suando estranhamente, curvado como um macaco, sempre fitando freneticamente a janela coberta pela cortina. Em suas melodias frenéticas eu quase podia enxergar sátiros e bacanais sombrias, dançando e rodopiando insanamente por abismos borbulhantes de nuvens e fumaça e relâmpago” – A Música de Erich Zann, H.P. Lovecraft.

No ano passado escrevi um artigo com dicas para jogos de Fantasia Sombria, citando alguns dos precursores desse estilo na literatura moderna, e apresentando algumas dicas de como dar essa pegada mais escura aos jogos tradicionais. Mas desde que publiquei o artigo, fiquei sentindo falta de alguns pontos que poderiam ser bem trabalhados no RPG.

Demorou, mas voltei a escrever sobre o assunto e agora penso em detalhar melhor esses pontos, em forma de uma série de artigos com novas dicas que podem ajudar na mesa!

Há muitos anos comecei a usar trilhas sonoras de fundo em minhas mesas de RPG. Confesso que foi um processo meio lento até que eu conseguisse chegar ao atual modelo que considero o mais eficiente para dar o clima certo durante as partidas. Isso porque gerenciar a sessão de jogo com mais essa ferramenta pode ser bem complicado, mas tenham certeza de que a história vai se tornar muito mais envolvente com o auxílio de uma boa música, principalmente quando falamos de jogos sombrios, seja Fantasia Sombria ou partidas de terror ou mistério.

Como falei, já tentei várias formas diferentes de manter um clima maneiro usando a trilha certa durante o jogo, mas isso é uma das coisas que o mestre tem de elaborar antes, durante a preparação da partida. Não adianta achar que chegar na hora do jogo e colocar qualquer música vai ajudar. Não! É preciso fazer uma seleção prévia e, aqui, temos dois pontos diferentes: o jeito fácil e o modo mais complexo, e mais imersivo.

A forma mais simples
Trata-se de escolher uma trilha condizente com o estilo do jogo e que mantenha certa linearidade por todas as faixas, assim você não precisa ficar se preocupando em mudar a música, trocar a faixa de acordo com o momento… Isso quer dizer que se você está narrando uma mesa de Dragon Age RPG, é legal separar músicas do próprio game e que ditem o ritmo da partida, sem ter muito contraste entre faixas mais lentas e aceleradas.

Isso também significa que se você vai dar play e deixar rolar músicas sem ficar mexendo no som, não dá pra colocar músicas agitadas mescladas com outras mais lentas e de clima soturno. Imagina descrever que os personagens estão entrando no mausoléu abandonado, por aonde a luz não chega mais… e no meio da narração a música troca e começa uma mais agitada? Pode quebrar o clima ou diminuir a tensão do momento.

O jeito mais complicado
É aqui que as coisas começam a ficar mais complexas, porém, com uma mesa muito mais rica e imersa no lado sombrio da fantasia. Se por um lado temos a comodidade de deixar uma trilha rolando sem mexer, do outro é possível criar momentos incríveis ao traçar planos com mudanças de música. Uma cena com músicas mais lentas e arrastadas remetem às situações angustiantes, aquele instante de investigação dos personagens, de interações sociais com NPCs mais estranhos, de explorações a locais bizarros e todo esse tipo de acontecimento.

Então como estamos falando de jogos de fantasia medieval, logo, vão ocorrer os combates – parte fundamental nesse tipo de jogo; e a música durante os combates também têm seu momento de ajudar a criar a atmosfera. É um instante de ação frenética, mas que não deve ser tomado como um combate simples, pois os heróis normalmente enfrentam criaturas mais sinistras nesse tipo de jogo e isso também deve ser levado em consideração. Assim, trocar a música de fundo (mais calma e arrastada) para algo mais urgente, desesperado e acelerado, mantém o clima nefasto do jogo.

Em tempo: A narração de combates é um artigo maneiro que temos aqui.

Ferramentas
Então para adicionar música de fundo em seus jogos, independente da forma que vai adotar, é preciso estar minimamente preparado para isso. Quando comecei a usar esse recurso de jogo, eu selecionava previamente as músicas no computador e gravava em um CD para deixar rolando durante a partida – certo, falei que fazia muito tempo né?

Depois disso, passei a usar MP3 num pendrive conectado ao som, deixando a trilha rolar ao longo da sessão. Mas isso ainda estava longe do que eu queria fazer realmente. Então passei a usar meu notebook para gerenciar as músicas de acordo com o momento de jogo. Ficou muito melhor, mas isso também ainda precisava de uma lapidada pra ficar mais ágil.

Por fim, passei a usar meu tablete para gerenciar combates e a música ambiente e isso meu deu a velocidade que eu queria, pois também adotei o Spotify para selecionar as trilhas que usaria, criando playlists para cada tipo de cena mais comum, como combates, investigação e taverna.

Como muitas vezes eu narro em locais fora de casa, comprei uma caixa de som portátil com conexão via bluetooth e, isso sim, me possibilitou criar as cenas de forma mais controlada e eficaz, o que significa não perder tempo e me atrapalhando para adequar o som ambiente às cenas que estão ocorrendo dentro do jogo. Acho até que deixa os jogadores mais focados!

Sobre o uso de ferramentas digitais em jogos, temos um Podcast D30 especial!

Então, só pela experiência que contei, é possível pegar algumas ideias para incorporar aos jogos de vocês ajustando de acordo com a necessidade e possibilidade de cada um. Garanto que as partidas vão ganhar um peso diferenciado e pode até ajudar em momentos chave. Eu mesmo já separei algumas músicas bem específicas para determinado instante da história ou mesmo uma trilha cronometrada com uma leitura ou narração que eu faria para uma cena.

Sugestões de trilhas
Essa é uma parte bem mais pessoal, pois vai de acordo com o gosto de cada um e como isso afeta a partida. Eu testei muitas diferentes, mas confesso que uso pouco trilhas sonoras de filmes. Por quê? Bem, porque quando o filme é muito conhecido, por exemplo, Senhor dos Anéis, isso tem a chance muito grande de tirar a atenção dos jogadores justamente por causa da música. Sim, já aconteceu comigo. No meio da sessão, numa hora meio sinistra entrou a música (que também era lúgubre) do SdA, e uns dois jogadores distraíram “nossa essa música é legal, é daquela parte assim, assim”. Então, eu até separo algumas músicas de filmes, mas as menos conhecidas ou de filmes menos blockbuster.

O que mais tenho usado ultimamente são trilhas sonoras de games de terror. A indústria dos games está arrecadando cada vez mais grana e isso faz com que tenhamos um salto de qualidade em tudo relacionado, tanto que temos pessoas dedicadas apenas a esse tipo de trilha sonora e fazendo isso muito bem! Além disso, meus jogadores não são tão aficionados por games o que dificulta reconhecerem as músicas em questão. Alguns nomes legais são: Dead Space, Shadows of Mordor, Splatterhouse, Dead Island, Dragon Age, War in the North, God of War, Resident Evil, Dark Corners of the earth, Elder Scrolls…. A lista é enorme!

Enfim, espero que gostem do texto e sugestões para uma futura reedição são sempre bem-vindas!

Por fim um exemplo do que eu uso em jogos sombrios:

Sobre Janary Damacena

Janary Damacena escreveu 163 posts neste blog.

Sempre interessado em narrações fantásticas e de horror, apreciador de boa interpretação e defensor da regra de ouro.

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