Podcast D30

A difícil arte de mestrar para garotas

Todo mundo sabe que meninas se interessam também por RPG. Não é à toa que as convenções geeks por aí e os encontros do D30 têm sempre um público feminino considerável. Mas, ao mesmo tempo, garotas são famosas por serem um pouco dispersas nos jogos e por não gostarem de qualquer tipo de RPG.

Minha ideia aqui é desmistificar isso de que mulher não gosta de RPG, com base na experiência que tive em um jogo só de garotas, e deixar algumas dicas para quem for mestrar para meninas ou com grupos mistos.

A experiência
Meu melhor jogo do ponto de vista feminino foi um de Mage narrado pelo Júlio para as amigas Rita, Karina, Lilian, Daphne e eu. O cenário era Constantinopla e havia um grande espaço para fadas, lobisomens e outras criaturas místicas. A personagem central era a Rita, uma maga princesa, que tinha um grupo de amigas com habilidades mágicas.

O que fazia esse jogo diferente dos outros então? Em primeiro lugar, as descrições. Sempre ricas e detalhadas, não só dos cenários, mas também dos personagens e das emoções. A ênfase nos diálogos, sempre interpretados e levados a sério pelo grupo também era fundamental para ser quase um filme onde todo mundo permanecia empolgado.

Em segundo lugar, as batalhas. Apenas uma ou duas por jogo, bem épicas, com poucas e decisivas rolagens de dado e muito roleplay para fazer as coisas.

Em terceiro, claro, o romance. Não aquela coisa piegas de beijoca pra lá, beijoca pra lá, namorado da fulana e coisa e tal, mas uma coisa mais de corte mesmo, com troca de olhares, coisas subentendidas e muitos sentimentos envolvidos. Como o jogo se passava em um castelo, havia espaço para bailes e vários eventos. E para todo o tipo de gente galante. Era possível planejar roupas e fazer muita intriga, bem como muitas alianças.

Para se ter uma idéia, a Rita chegou a comprar um livrinho com roupas de época  de Constantinopla e ficávamos um tempão antes do jogo planejando que roupa íamos usar, em detalhes, com os tecidos e tudo (chato para os homens, incrível para a gente).

Outra coisa legal é que em todo o jogo havia invariavelmente uma parte para cada personagem se destacar, falar e interagir diretamente com os NPCs do mestre, o que fazia todo mundo se sentir valorizado no final da sessão.

Não sei se o jogo teria dado certo com homens também como players. Talvez as mulheres se sentissem intimidadas, ou fúteis demais de se prender a esses assuntos de planejar roupa e cabelo e conversar sobre os gatinhos da corte. Mas fato é esse: é disso que a gente gosta. Então, se quer jogar com menina, trata de incluir um brocado, uma descrição mais detalhada, uns diálogos reais e uns elogios sinceros e pertinentes no vocabulário do seu rei, ou ele será tão entediante quanto um goblin.

Chato mesmo é a indiferença
É uma coisa que o meu namorado sempre reclama e eu não consigo mudar. Muitas vezes passo horas fazendo a ficha do meu personagem, escolhendo a dedo cada item, a imagem e etc., e perco o interesse em algumas sessões de jogo. Por que? Porque se a minha personagem é a favorita de Mystra, ou tem um super carisma, ou é uma high-elf, isso precisa ser sempre usado pelo mestre.

É parecido com aquela coisa bem tradicional de casal, sabe? O marido chega em casa e a mulher fala. “Não notou nada de diferente, benhê?” E fica zangada se ele não percebe que ela pintou o cabelo ou comprou uma roupa nova.

Fica a dica, rapazes. No RPG ou na vida real, para conquistar a atenção das garotas, atenção aos detalhes. Miau!