Podcast D30

Reino da Escuridão Eterna – Parte I

Greyhawk, 591 do Ano Comum.

A chuva caía com uma intensidade nada agradável. Desde que entraram na região controlada pela Diocese de Kempton, gradualmente os cavalos começaram a ter mais dificuldade para seguir pela estrada secundária que fora recomendada pelo chefe da Guilda de Mensageiros de Veluna, o meio-orc Gerentakhos. Chegar até a vila da Torre Murq foi um alívio para os aventureiros, e os fez pensar em um leito quente e seco para dormir.

Após a chegada, com uma recepção pouco calorosa e completamente desconfiada, o pequeno grupo conseguiu ser liberado para entrar na vila – que estava de portões fechados e os vigias temerosos. O líder da guarda comentou sobre os ataques que o local estava recebendo e que estava sem condições de revidar de forma plena, devido ao baixo número de soldados. Depois de instalados da Taverna Wrafton, uma rápida inspeção mostrou algumas personalidades que valiam um tempo para conversas, mas que mal pôde se concretizar.

Criaturas que lembravam zumbis realizaram um impressionante ataque escalando a amurada, valendo-se de uma agilidade descomunal para mortos-vivos. Não chegou a ser um grande desafio enfrentar aqueles seres, mas o grupo de forasteiros não teve tempo hábil para evitar algumas mortes por onde as criaturas passaram antes de serem abatidas.

Logo cedo, todos estavam reunidos na Taverna Wrafton para o desjejum, embora o dia ainda permanecesse escuro e levemente chuvoso. Era nítida, nas trocas de olhares, a preocupação com o estado da vila e os assustados habitantes. Os eventos da noite anterior foram inesperados e exigiam atenção dos forasteiros. Mesmo que isso desviasse um pouco para o caminho da cidade de Shandalanar.

Dmitri passou o restante da noite na pequena muralha de pedras que cerca o local, mantendo vigília junto aos soldados. Apesar disso, ele pareceu não estar nenhum pouco fatigado pela falta de sono.

– Acho que devemos partir rapidamente, mas nós não conversamos com alguns desses fazendeiros da região e talvez seja algo interessante de se fazer antes de sairmos. – Começou o humano da nobreza do Condado de Urnst.

Mas antes que pudessem realmente conversar, o grupo foi abordado por um dos fazendeiros que estavam por lá na noite anterior. Ele trazia uma pequena garota. De pele clara e cabeleira ruiva, que ao cair para o lado revelava uma enorme ferida recém-cicatrizada em seu olho, que também a deixara cega. Solphi e seu pai Alen, tinham algo importante e secreto a dividir com o grupo. A confiança foi instantânea a partir do momento em que a vila, já desesperançada, viu Jake – que durante a luta fez surgir asas angelicais e uma auréola dourada que reluziam a cada investida contra os mortos.

Jake e Dmitri se ocuparam em conversar com o velho, enquanto Fino – um gnomo das cidades subterrâneas; impressionava a menina com efeitos mágicos para que ele e a paladina de Heironeous, Ceoris, pudessem saber mais sobre o assunto. Combinou-se de fazer uma conversa mais reservada em um dos quartos alugados pelo grupo.

E o que se seguiu foi um triste relato de uma jovem aterrorizada por sonhos bizarros de criaturas disformes que sussurravam palavras obscenas e cruéis. Solphi contou sobre quase um ano de sofrimento em que as vozes malignas a atormentaram até que, por fim, ela cedeu aos pedidos de ir a um antigo e caído templo em ruínas fora da cidade, para quebrar um selo mágico que ajudaria a criatura “acorrentada” a se fortalecer. Caso ela colaborasse, seus servos poupariam os habitantes da vila de uma chacina. Claro, nada disso foi cumprido e sombras ferozes começaram a sair de um portal que surgiu nos andares debaixo do antigo templo.

O grupo se apiedou das dificuldades da jovem e, percebendo traços de um poder desconhecido, foi sugerido que seu pai fosse para Lorrish, onde ela poderia receber cuidados mais específicos. Assim, uma carta de recomendação foi preparada. Antes de saírem, Jake observa a menina por alguns segundos, então se ajoelha fechando a mão sobre a dela.

– Esse é um medalhão de Pelor para te proteger. Enquanto você acreditar, essa luz vai sempre te alcançar, mesmo quando tudo estiver escuro uma luz vai brilhar dentro de você e te proteger das sombras. – declamou docemente o clérigo e, então, lentamente levantou-se indo em direção à porta.

Após concluírem o motivo dos ataques à vila da Torre Murq, os aventureiros se organizam para partir, tendo a carroça do grupo e os cavalos já preparados, tudo feito sob o comando de Elizir, o guerreiro humano contratado para acompanha-los.

A curta viagem até o templo demorou cerca de duas por uma estrada abandonada há alguns anos. O mato crescia alto em suas laterais, mas ainda sendo possível seguir pela rota local que leva até uma paisagem sinistra: os portões de ferro que um dia cercaram o lugar agora tombavam enferrujados, enquanto lápides quebradas brotam espaçadamente até a porta aberta do templo. A chuva torna a cair. De forma leve, mas conferindo um sentimento opressor na medida em que se aproximam do templo. Amarrando os cavalos e a carroça do lado de fora, o grupo inicia passos rápidos, porém cautelosos até a entrada.

A paladina Ceoris é a primeira a perceber que, mesmo com a chuva dos últimos dias, a terra envolta aos túmulos está remexida demais. E isso é quase um alarme apitando em sua mente. Seus músculos treinados por anos de guerra nas Shield Lands são afiados o suficiente para evitar garras ossudas tentando rasgar seus tendões.

De súbito, esqueletos se levantam das covas e investem contra os heróis. Assim como as criaturas da noite passada, esses seres também dão sinais de uma corrupção maior alterando seus corpos, com órgãos internos à vista, numa coloração verde luminescente e aparência esfumaçada.

Mais ao fundo é possível ver pequenas criaturas voando, saídas de dentro das ruínas. Elas não chegam a passar de um metro de comprimento, mas sua aparência retumba por entre os aventureiros. Parecem saídos das descrições clericais de como é a forma dos demônios: asas longas em um corpo hominídeo e reptiliano, com calda pontuda, chifres pequenos e as mãos em forma de garras.

– Amigos, a batalha vai começar! Estejam prontos para o combate contra esses seres das trevas. Não se deixem enganar por sua aparência grotesca, somos mais poderosos que esse mal. Heironeous e Pelor estão ao nosso lado então vamos triunfar. – As palavras de Ceoris ecoam entre seus companheiros de maneira firme ao mesmo tempo em que acalma, a voz impostada da paladina concede serenidade e foco.

O combate tem início quando Fino, o svirfneblin, se movimenta agilmente incandescendo suas mãos até formar esferas de fogo que são lançadas contra as criaturas. Uma grande explosão é gerada pelo impacto e fumaça negra sobe quando o fogo se dissipa. Com essa magia, a maior parte dos mortos finda sua existência. De sorriso zombeteiro no rosto, o gnomo das profundezas se movimenta para dar espaço à paladina que ruge enquanto desfere poderosos golpes que transpassam quatro dos monstros sequencialmente. Dmitri utiliza sua movimentação gatuna para acertar diversos inimigos e ferir outros com uma eletricidade que passa de sua rapier para o corpo das criaturas.

Em pouco tempo o combate está encerrado.

Assim, só resta entrar no antigo templo em ruínas…

Para compreender melhor alguns termos, aqui tem um glossário.