Chega de jogar solo: Interação social muito além das mesas de RPG

É muito comum, nos jogos de RPG, a figura do “lobo solitário” como personagem que prefere agir por conta própria, à revelia do grupo ao qual pertence, o que às vezes atrapalha . Porém, essa situação é mais preocupante quando esse papel é assumido pelo próprio jogador em sua vida pessoal. Todos sabemos que o RPG é um jogo de equipe, cooperativo, e deveríamos aprender com ele a agir da mesma forma também fora da mesa de jogo.

Acredite, há jogadores que aguardam ansiosos pelo próximo Encontro D30, feira temática nerd ou otaku, por serem as únicas ocasiões em que têm a oportunidade de conversar cara a cara com outras pessoas que compartilham dos seus mesmos gostos e interesses. Sim, eles têm famílias, estudam e trabalham, no entanto, vivem cercados de gente com preferências completamente diferentes, e acabam realmente isolados, por mais amigos que conheçam nas várias redes sociais. Mas como ter certeza disso, se não contar para ninguém as coisas que você adora?

É verdade que há quem pareça esquecer dos velhos amigos, quando começa a namorar ou quando se casa, principalmente quando a união é com alguém que não curte os mesmos passatempos. Entretanto, por mais que adoremos papos-cabeça e emitir opiniões sobre temas sérios, todos temos a necessidade de nos reunir para falar abobrinhas e conversar fiado à vontade, sem a tensão de não saber o que dizer após comentar as condições climáticas com desconhecidos no elevador (ou na mesa de jantar).

Cazuza cantava que “a solidão é pretensão de quem fica escondido fazendo fita”, contudo, mesmo quem diz preferir ficar só, em algum momento da vida sofre quando o isolamento se prolonga indefinidamente. Há os tímidos que não conseguem se enturmar por morrer de vergonha, e aqueles que nunca aprenderam direito algumas habilidades básicas de socialização (talvez por falta de exemplos próximos a seguir na própria família), e que não sabem nem por onde começar.

Pois saibam que nunca é tarde para começar!. Somos seres naturalmente gregários, sociáveis, e todos desejamos uma boa companhia, então basta não sermos antipáticos nem indiferentes!

A princípio, isolar-se pode parecer uma ótima solução para sobreviver a uma série de situações sociais que podem ser difíceis, principalmente em um mundo que parece ser ameaçador, mas essa é uma resposta que se mostra disfuncional a longo prazo quando, na verdade, esse mundo pode ser agradável e está cheio de pessoas interessantes!

Às vezes, infelizmente, passamos muito tempo presos a uma visão de mundo que nos engana sobre a realidade e isso talvez faça com que qualquer um de nós precise de ajuda profissional para conquistar nossa liberdade. Caso você precise conversar urgentemente, mas não tenha ninguém disponível, ligue gratuitamente para o Centro de Valorização da Vida – CVV no número 188. Além desse recurso, há diversas linhas terapêuticas ou assistenciais (sim, assistentes sociais, afinal sua dificuldade pode ser em lidar com situações concretas da vida e não apenas dificuldades psicológicas) a procurar, inclusive alguns serviços prestados gratuitamente à comunidade. O que não vale é desistir de sair desse labirinto, que na verdade, não passa de um dos vários caminhos que você pode tomar, e alguns são maravilhosos de se descobrir!

Além disso, aqui estão algumas dicas para ajudar quem se encontra em situações como as que comentei acima:

– Aproveite as mesas de jogo das quais você participa e, nos intervalos dos encontros e eventos, converse com os jogadores e mestre, troque contatos com outras pessoas com quem conversou. Se a vergonha for muita, prepare cartões de visita com e-mail, site, gamertags, etc, ainda que escritos à mão, ou dê um toque artesanal se não puder imprimir em papel de maior gramatura. Essa é uma boa estratégia de “networking”, apenas cuidado para não se expor demais com endereços residenciais, deixe isso para quando se tornarem amigos de confiança.

– Por maior que tenha ânsia ou carência por encontrar alguém com quem conversar ou jogar, é importante ter alguns cuidados na hora de marcar encontros presenciais. Para ter maior segurança (principalmente no caso de jovens e mulheres), nunca vá sozinho, nem que seja acompanhado de um motorista do Uber, ou peça carona para seus pais e amigos. Além disso, prefira marcar jogos em locais públicos, esta vida é incrível mas também não precisa dar mole, não se empolgue demais!

– Há alguns grupos de Whatsapp regionais aqui no DF para combinar jogos e perguntar sobre bons locais de ponto de encontro frequentados pelos entusiastas dos jogos analógicos. Faça parte do D30 RPG.

– Conheça as principais casas de jogos daqui:

Ludoteca BGC,
Kingdom Comics,
Carcassonne Pub,
Taverna,
Orgutal.

Rafael Canhête Filho nem parece mais caipira de tantos jogos que já leu,
é autor do RPG Mequetrefes e pai de dois filhos.

Sobre autor convidado

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Comments

  1. Eu li esse artigo, interessante, para se pensar.

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