Uma resenha de Saqueadores na Fronteira
Há um tempo atrás me deparei usando exatamente essa frase do título ao advertir meu amigo Marcello Larcher! Para muitos puristas – defensores desta vertente indie de RPG, a frase acima nunca ocorreria.
Também estava convicto desta enganosa premissa até conhecer o excelente trabalho de Jason Lutes e que chega ao Brasil pela iniciativa e tradução de Marcelo Paschoalin.
Saqueadores na Fronteira é um suplemento/hack que deve ser apreciado com muito entusiasmo e atenção. Ele, na verdade, pega vários pontos de conflito entre a proposta de Dungeon World e a proposta OSR, e cria a possibilidade de adaptação para um design OSR louvável.
Muitos poderão criticar e lamuriar que mudanças significativas e descaracterizantes teriam de ser feitas para tornar o trabalho de Latorra e Koebel “mais ou menos modular” e “ruling not rules”. Mas o que Lutes nos mostra é que há uma possibilidade de alterações singulares e que de maneira alguma perdem o tempero do Empoderado pelo Apocalipse, e ainda nos coloca um chão old school. Citarei abaixo alguns pontos que me chamaram atenção, mas com certeza, o melhor seria você mesmo conferir e tomar suas próprias conclusões, deixando este texto cansativo e combativo de lado.
Um dos pontos que propriamente afastava DW do OSR era a própria afirmação dos criadores que buscavam criar seres únicos e heroicos em meio a um cenário de aventura. Saqueadores propõe uma nova maneira de criar personagem, rolando atributos, pontos de vida e apresentando virtudes e vícios que te transformam em apenas mais um explorador ganancioso, em busca de uma vida mortal e talvez uma aposentadoria gorda. As classes também foram restringidas e se baseiam nas quatro tradicionais que deixariam Arnold Kemp orgulhoso. Os movimentos de cada classe, em relação ao Dungeon World, foram enxugados e propõem uma narrativa ainda poderosa, contudo, encaixada na proposta do suplemento.
Outro aspecto que me chamou bastante atenção foi a atribuição de dano às armas e não mais à classe em si. Pontos de sorte e sua maneira de gastar, desde a criação do personagem, até a rolagem dos dados e aumento de experiência
Mas permitam-me abrir um parágrafo para citar um dos pontos que mais me atraíram – o sistema de magia e bênçãos que fazem qualquer White Hack ficar com inveja! Cria-se um sistema de pool, no caso dos feiticeiros, e rótulos de magia, onde o efeito da mesma é negociado e gasto a partir de uma interpretação e narrativa do juiz e jogador. E, como todo bom OSR, a magia é incontrolável e perigosa e, na melhor das hipóteses, seu companheiro de exploração pode sair chamuscado. Os favores dos clérigos também ganham um outro charme ao ser instituída a característica insolência no seu canal com a divindade. Conseguir curar um amigo de expedição pode te custar caro!
Uma outra saída genial seria a produção de um assentamento ou vila de onde os aventureiros partirão, substituindo as famosas tabelas de encontros e acontecimentos por movimentos de exploração e viagem. Mais uma vez permitindo que a narrativa e elaboração dos personagens possa se misturar a proposta incentivada em sistemas de hexcrawl. Inicia-se desenhando em conjunto a fronteira entre o povoado e o mundo desconhecido, na qual as próprias escolhas, narrações e rolagens darão a produção de um novo território que, com certeza, estará repleto de desafios. As frentes permanecem, mas sincretizam-se com a proposta OSR.
Não esquecendo dos movimentos prolongados, que possibilitam a criação de itens, recuperações de dano, pesquisas e estudos arcanos, por exemplo.
Para quem gosta do famoso XP por gold e classe, as famosas perguntas nos finais das sessões ganham esse novo paradigma. Não será uma surpresa um guerreiro ser inquirido com a seguinte sentença: – Derrotou um inimigo que valia a pena e te desafiava? Pilhou um tesouro memorável? E somente depois da afirmativa, poder adquirir mais experiência e talvez passar de nível. E por falar em experiência, pessoalmente recomendo o uso de Saqueadores na Fronteira com Funnel World, para quem sabe também colocar uma pitada de DCC e outros!
Sem mais delongas e defesas! Na verdade, elogios! Muitos! Saqueadores na Fronteira é uma excelente aquisição e proposta para quem ama uma boa exploração de masmorras e fuga com tesouros de dragões! E ainda apresenta um novo universo de possibilidades ao tão amado e respeitado séquito de Empoderado pelo Apocalipse e que qualquer entusiasta de OSR deve (no mínimo!) conhecer. Pois, na minha humilde opinião, deve-se jogar e usar sem moderação.
por Tiago Rolim
Minduim de Coração,
OSR de pulmão, e
Empoderado pelo Apocalipse
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