Possibilidades narrativas em 3:16 – Carnificina Entre as Estrelas

Pois bem, me sentei para escrever algumas palavras a respeito do último Encontro D30 (“Isso é uma armadilha”, e foi excelente!), mas comecei a pensar mais especificamente sobre a mesa que escolhi para mestrar durante a tarde: Uma já tradicional partida de 3:16 – Carnificina Entre as Estrelas, com soldados espaciais chegando até um planeta em grande parte gasoso e imerso em brumas pesadas. Muita diversão, apesar das três baixas entre os dez bravos marines. 

Faz cerca de cinco anos que tenho narrado 3:16 com certa frequência nos Encontros D30. Nesse tempo, muita gente conheceu as Forças Expedicionárias de Elite e viajou pelo cosmos engajados na destruição de alienígenas: iniciantes no RPG, veteranos, desconhecidos, pessoas com idades diferentes e muito longes umas das outras ou amigos de longa data. E por todos esses anos fui percebendo as diferentes formas como cada grupo faz uso das “Lembranças”. 

Para quem não conhece, o 3:16 possui uma regra de jogo chamada de Lembranças, que é um recurso narrativo poderoso para construir uma história, no presente e no passado, ao mesmo tempo em que direciona o curso da aventura. Essa é uma das principais mecânicas porque ajuda o grupo a progredir nas missões instantaneamente enquanto os jogadores constroem a vida dos personagens. Isso permite uma interação maior entre eles e o cenário, pois essas lembranças podem ser Forças (quando os eventos estão a favor do grupo) ou Fraquezas (uma derrota meio covarde que beneficia apenas um personagem, tirando ele do perigo).

Em uma das sessões que narrei, um capitão estava pilotando o Transporte Blindado de Pessoal – que é um veículo de exploração e combate terrestre; quando o grupo foi pego por uma tempestade de areia em meio a um planeta desértico. Ele não teve dúvidas e usou uma Força.

“Durante meu treinamento, ouvi muito berro do Sarja enquanto pilotava uma sucata sob todo tipo de adversidade, e esse penhasco aqui não vai nos parar”, narrou.

Com isso, a história seguiu um curso positivo para os personagens, enquanto um pouco da vida do capitão foi apresentada ao grupo. Com o passar do tempo e os personagens convivendo juntos em diversas circunstancias, essas histórias podem ser criadas mais ligadas às missões anteriores.

O livro diz que as Lembranças devem ser mantidas relativamente simples. Elas não são “cenas” interpretadas com dados. A ideia é usar Lembranças fazer duas coisas: (1) um esforço de grupo – adicionar ideias para tornar a Lembrança e seu efeito na cena atual mais satisfatória – e (2) deixá-la breve. Sim, o uso da lembrança reduz o tempo da partida e acaba com as rolagens de dados. Isso adiciona detalhes ao personagem, mas não deve atrapalhar a narrativa no presente.

Com esse trecho do livro me recordo de outra aventura, só que desta vez a missão ocorria em um planeta parcialmente destruído séculos atrás por um acidente radioativo. Depois de rodar o local, o pelotão descobriu que os alienígenas eram máquinas tecnológicas que se desenvolveram com a catástrofe e se reproduziam com a energia restante. Em determinado momento, ao estarem encurralados por dezenas de inimigos, um dos soldados usou uma Fraqueza.

“Vendo toda essa cena, eu lembro da minha primeira missão, com apenas morte ao redor. Eu fico desesperado e fujo”, descreveu.

Dessa forma, seu grupo ficou com menos uma pessoa para ajudar e  todos podem ter problemas de confiança no futuro.         

Desta forma, é possível perceber que o uso das Lembranças é decidido pelo jogador em um momento rápido e deve ser de consenso com o grupo – se a ideia faz sentido, se é boa, ou mesmo se todos estão de acordo com o uso de uma lembrança naquele instante. E nisso, o livro deixa bem claro que as “lembranças são ferramentas narrativas, e não fichas de apostas”. E, por isso, o grupo como um todo tem a palavra final nessa questão. Isso aconteceu algumas vezes em jogos comigo, mas lembro com detalhes de duas vezes em que esse momento foi bem marcado: Numa deles, próximo a uma batalha final em um planeta, os jogadores combinaram de não usar lembranças. No outro caso, em um combate duro, um jogador pensou em algo esdruxulo para vencer a situação mas os outros jogadores não curtiram a ideia e vetaram o uso da lembrança.

Em vista de todas essas experiências, passei muito tempo jogando de formas variadas, testando outras abordagens e formas de utilização das Forças e Fraquezas. Como é uma ferramenta que define a narrativa, os jogadores podem completar uma missão em poucos minutos, da forma como eles quiserem. Eu sempre achei o uso desse recurso forte demais. Pelo menos, até conversar com o líder maior de todas as Brigadas – sim, ele mesmo: Gregor Hutton, o autor do Carnificina entre as Estrelas.

No livro, e suas meras 90 página, não está especificado se os jogadores podem usar as lembranças a qualquer hora. Então Greg me explicou que a lembrança realmente pode ser usada a qualquer momento, até fora do combate. “Normalmente, os jogadores usarão isso como último recurso, mas é escolha deles sobre quando usar”, disse.

Não existe a necessidade de algum tipo de controle no quanto os jogadores usam as lembranças durante uma partida. Como mestre “deixe os jogadores usarem as lembranças quando quiserem. Eles são um recurso muito limitado que os jogadores só recebem de volta morrendo (e fazendo um personagem novo). O mestre do jogo deve se deliciar se puder fazer com que os jogadores usem mais lembranças em uma missão do que personagens conseguem retornar vivos ao final dessa missão”.

Isso significa que na medida em que os jogadores vão usando as lembranças e criando uma história mais interessante para seus personagens, cada nova missão começa ficar mais difícil, pois as lembranças vão acabando, uma vez que na ficha de personagens temos cinco espaços para anotar Forças e outros cinco para as Fraquezas.

Mais 3:16 para enriquecer seus jogos!

Sobre Janary Damacena

Janary Damacena escreveu 163 posts neste blog.

Sempre interessado em narrações fantásticas e de horror, apreciador de boa interpretação e defensor da regra de ouro.

Comments

  1. Tenho um carinho mais que especial por essa história ??? Foi a primeira mesa de RPG que joguei e Janary deu show mestrando! Muito obrigada, me fez apaixonar mais ainda pelo mundo do RPG! ????

    1. Author

      Alinne essa foi uma partida muito maneira e teu sorrisão na foto só comprova isso! Obrigado por ter participado daquele dia e de todos os seguintes, fico feliz com sua presença e mais ainda em saber que minha missão foi cumprida 🙂

  2. Pingback: Saiba como foi o 72º Encontro D30 – Mentira! | D30 RPG

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