A trajetória de um mestre que tem muito a aprender com um mundo geomântico, enquanto busca contribuir para o RPG.
Há um tempo atrás, estava na minha busca incansável por sistemas novos e alternativas no RPG. E foi durante uma das minhas intermináveis pesquisas que me deparei com uma proposta inovadora e, até certo ponto, surpreende, ou seja, bem o que eu procurava – PbtA ou Powered by the Apocalypse. Não irei aqui entrar nos pormenores do sistema pois cabe a você, como curioso, descobrir essa belezura. Também por que essa não é a intenção desse meu pequeno artigo.
Cheguei a baixar alguns jogos gratuitos, inclusive traduzidos, e logo após a interação inicial, comecei a entrar em contato com os jogos mais populares propostos por aqueles que são fieis ao Apocalypse Engine, mas rapidamente, em cada busca notava uma citação a um tal jogo chamado LEGACY. Devo também confessar que parte dessa notícia se deve ao querido irmão minduim, Henrique, que me cutucou várias vezes sobre o mesmo.
Curioso com a ideia de poder controlar um personagem e uma família ao mesmo tempo, não perdi tempo e fui adquirindo o PDF que levou a compra quase que instantânea dos livros impressos (o livro base mais dois suplementos). Como não sou bobo, ao ler os créditos descobri que um dos suplementos que mais gostava era escrito por um BRASILEIRO! Sim senhores, um dos RPGs mais legais que havia conhecido nos últimos tempos possuía sangue tupiniquim.
E ao entrar em contato com o autor, Douglas Santana, que foi extremamente solícito e atencioso, pude começar a trilhar um caminho sem volta cheio de surpresas e conhecimento.
As conversas esparsas e esclarecimentos de dúvidas me levaram, após algumas trocas de mensagens, a um convite inusitado. Jogar online com Douglas a segunda edição do Legacy que estava para sair. Não pensei duas vezes, e em pouco tempo estava me metendo em meio a um culto autoritário e um templo misterioso, buscando libertar um acampamento pós apocalíptico da fome, desunião e muitos outros problemas tecnológicos. Essa pequena campanha online se tornou uma excelente escola para mim, como mestre, mostrando que horas e horas de boa leitura e referências inteligentes fazem sim MUITA DIFERENÇA na qualidade de um narrador de RPG.
De um fã desconhecido, sem perceber, me tornei um intrometido e curioso das novidades de Legacy, que me levaram a entrar no Hall da Fama dos Vitória´s Cutthroats e, com isso, um convite de ajudar meu amigo e mentor de PbtA a testar melhor seu novo jogo que será lançado em breve – MYSTHEA.
O Legacy e agora o Mysthea nunca me deixaram confortáveis. Não que isso seja ruim! Suas descrições, movimentos e sistema desafiam-nos como mestres (narradores, mestre de cerimônia, whatever!) a sempre buscar de forma inteligente, novas saídas narrativas e construções para as campanhas que se desenvolvem. Como diriam os bons que já narraram Mysthea e afins: compare essa experiência a descer uma ladeira íngreme em um grande opala sem freios e em chamas!
E foi dessa forma, em com muito pânico, que narrei o quickstart de Mysthea para um grupo de veteranos dos minduins (só mestre cabeçudos!) e um grupo de pré-adolescentes novatos no RPG no último D30. No final tudo deu certo e a sensação de experimentar algo novo, mas conhecido e contribuir para o crescimento desse sistema me deixou contente e com sentimento de missão cumprida. A experiência de poder mostrar uma nova ambientação, assim como um sistema parcialmente conhecido mas com muitas inovações e crescimentos me deixou muito animado e sinceramente encantado!
Mysthea fala dos terrores da guerra, de lidar com refugiados e reconstrução, e de veteranos a novatos, consegue trazer algo de belo no jogo: criar laços, relações sociais e desafios nobres. Você agora controla uma família (guilda) e um herói que serão responsáveis, em meio as mazelas de um terrível conflito, por reconstruir um povoado e região. Claro que desafios e desavenças não faltarão. Mysthea foi criado para isso mas, no fundo, o que mais marca os jogadores são cenas como aquela em que um sentinela é capaz de, com a energia dos seus companheiros e do QUOAM, saltar entre as paredes e destruir um constructo feito de várias partes de cultistas mortos.
E o mais interessante: de forma inesperada todas essas experiências e trocas de informações foram parar na página internacional do quickstart do jogo e nos fizeram contribuintes diretos no desenvolvimento do mesmo. Isso é um dos pontos mais interessantes dentro da comunidade do RPG. Como somos um nicho dentro de um nicho, dentro de outro nicho, temos muitas vezes a oportunidade de entrar em contato direto com designers e autores que admiramos contribuindo também diretamente para o desenvolvimento daquele jogo que você tanto gosta!
Então não perca tempo! Quem faz o RPG somos nós enquanto comunidade, opinando, construindo e propondo novidades para o sistema que, de tanto jogar, já conhece até as regras alternativas. E, quem sabe, aquela sua “House Rule” pode entrar como mais uma na nova mecânica na atual edição do seu jogo favorito?
Quanto ao Legacy e Mysthea, continuo me “guiando” em meio a um mundo pós apocalíptico e cheio de esperanças ou outro cheio de poderes psiônicos e monstros aterradores! Ah! Quanto ao Noah (meu personagem preferido de Legacy e de todos os tempos) continua com seus braços fortes e tatuados buscando um lugar no mundo, “sobrevivendo” as intempéries e me ensinando a progredir.