Goddess Save a Carolina Neves

D30 Entrevista: Carolina Neves

O interesse de Carolina Neves pelo RPG nasceu nas plataformas digitais, mas esse entusiasmo foi logo direcionado para as partidas de mesa assim que a jovem conheceu o “estilo” analógico. Ela não consegue precisar com exatidão quando isso aconteceu, mas tem certeza de que já faz mais de dez anos que está nesse mundo. E há sete anos está mais atuante, participando e contribuindo na arte de “fazer jogos”.

Segundo Carolina, estar inserida no mundo do RPG (em formato analógico) preencheu uma parte muito grande de sua vida, tanto que ela não consegue nem mesmo mensurar essa relação de amor – que literalmente ultrapassou as barreiras da imaginação quando ela se casou com seu antigo mestre de jogo. E o hobby, que era motivo de chacota no ensino médio do colégio, ajudou a desenvolver “skills”, vencer a timidez, e até mesmo sair-se bem em processos seletivos.

E como parte das contribuições que a jovem vem prestando à comunidade rpgística do Brasil, foi lançado há pouquíssimo tempo o jogo Goddess Save the Queen, pela Redbox Editora. E é por aí que começamos esse bate-papo super bacana com a Carol:

Você trabalhou como designer do recém lançado Goddess save the Queen, como foi a experiência?

Então, eu não me sinto designer porque continuo sendo bastante perdida em sistemas. Em geral, eu sou a pessoa que lê o manual (e os livros de regras) duas ou três vezes! Hehehe

Minha participação se deu, principalmente, nas pesquisas de cenário e ambientação, embora o Júlio tenha tornado a mecânica de jogo bem fluida e de fácil compreensão – eu assimilei tudo numa ÚNICA lida… hehehe. Com relação à editora, eu não tenho nada a reclamar, pelo contrário, a RedBox abraçou a ideia e eu sempre me vi cercada de gente prestando todo suporte, como a Flavinha, o Dan e o Pop, com quem tenho mais contato!

Acho que quando a gente dá sorte de se cercar de pessoas bacanas, o projeto, os prazos e demandas acabam sendo tão suaves que a palavra “trabalho” deixa de fazer sentido…

Como surgiu esse projeto em parceria com o Júlio Matos?

O convite partiu do Julio, um cara que já tinha minha admiração há muito tempo, desde a época do UED. Ele estava com algumas ideias de criar esse jogo, mas estava com dificuldades em validar o que ele queria, visto que o objetivo do jogo era explorar personagens femininas. Eu entrei para dar esse suporte, mas acabei fazendo parte da ambientação e cenário.

Acredito que a melhor parte de trabalhar com o Júlio é a bagagem de experiência que ele divide com você o tempo todo, além de acreditar no potencial criativo dos que o cercam. Bom, como fã dele, sou suspeita a falar…

Quais outros projetos você está fazendo parte ou tem em vista?

Nossa, eu sou uma mulher-projetos, hehehe. Eu estou trabalhando em um livro sobre comportamento animal, em parceria de renomados profissionais da área, concluí uma cartilha recente, falando sobre o assunto em linguagem popular para os visitantes de zoológicos compreenderem conceitos básicos de etologia. Faço parte de um time que mapeia desastres geológicos no Estado Rio de Janeiro, junto a Defesa Civil e outros órgãos, participo de coletivos femininos com foco de propagação de mulheres e meninas na ciência, faço curadoria de eventos com enfoque nerd e geek (em especial os que assumem um formato de biologia cultural, unindo a bio com elementos da cultura pop) e estou sempre esperando um convite para jogar RPG com os amigos nesse meio tempo.

Com o sucesso do seu trabalho, o que você pode falar para pessoas que têm interesse em seguir esse caminho? Como é o mercado?

Eu penso que o mercado de jogos analógicos (aí eu não me limito ao RPG não, mas aos boardgames, cardgames e jogos interpretativos como um todo) tem tudo para ser bastante promissor. O que encontro hoje é dificuldade na renovação de público. Tento levar essas ferramentas lúdicas de assimilação para crianças e novos jogadores sempre que posso. Acho que só assim teremos possibilidade de ter autores vivendo exclusivamente disso, se assim eles quiserem.

Eu, hoje, não me vejo trabalhando apenas com jogos porque gosto da variabilidade das funções e projetos que me engajo, mas tenho expectativas de criação e desenvolvimento de novos games!

É bem legal ter uma mulher lançando um jogo por uma das maiores editoras do país, mas isso ainda não é tão comum. Qual sua visão sobre o cenário das mulheres no RPG brasileiro, tanto na criação de jogos como participantes de mesas?

Eu vejo muita mulher produzindo porque eu faço questão de me cercar desse grupo cada vez mais. O que acontece, no meu ponto de vista, é que os espaços ainda não são totalmente seguros para que as minorias (e aí eu não falo apenas de mulheres, mas de todas as minorias políticas) possam compartilhar seus trabalhos sem medo e/ou tendo as mesmas chances de visibilidade que as pessoas já consagradas no meio.

Pode parecer estranho para quem sempre teve seu trampo validado pelo grande público saber que ainda encontramos esse tipo de empecilho, mas é real e acontece todo dia. Eu me sinto privilegiada por não passar por nenhum tipo de constrangimento dentro da produção do GODDESS, mas a verdade é que eu tive sorte de estar trabalhando com pessoas super competentes, dispostas a me auxiliar e bem vistas no mercado.

Será que uma menina que produz jogo independente, solo e sem uma boa editora por trás teria essa visibilidade positiva que eu tive? Eu, honestamente, acredito que não.

Durante o Diversão Offline 2016, você conheceu um autor do qual gosta bastante, o John Wick, conta pra gente como foi.

Eu conheci ele quando auxiliei o pessoal do evento na jornada para trazê-lo pro Brasil. Quando ele chegou, o pessoal da produção foi buscá-lo no aeroporto e prontamente me ligou e colocou pra falar com ele. Chorei a alma na ligação, hahahaha. Depois, já no evento, encontrei com o John pelos corredores, falando com fãs e mega ambientado já, tomando rios de coca cola. Conversamos bastante ali, pessoalmente. Uma simpatia! O cara é mega acessível, de verdade. Eu havia comprado um chinelo havaiana pra ele e uma blusa de gatos (ele ama gatos, hehe), e aí aproveitei e entreguei logo. Nesse dia, à tarde, nós jogamos com uma galera uma mesa promocional do L5R. Puta oportunidade! E depois mantivemos contato via Facebook. Uma coisa muito legal foi que ele me enviou uma cópia do Cats, porque eu falei pra ele que tinha um pirata porque eu não havia conseguido comprar um físico, somente o pdf via drive thru.

Rapidinhas

HQ: Batman, Ano Um.

Série: Atualmente eu assisto One Piece (é minha série-anime favorita!).

Livro: Meu último livro foi Em busca de Watership Down, 10/10.

RPG: RPG? Goddess Save the Queen! HAHAHAHA  e Meu Brinquedo Preferido, do Edu Caetano.

Game: Os games que mais me marcaram foram Lunar: the silver star e Ragnarok online.

Partida de RPG mais legal: Não é que tenha sido a mais épica, mas foi uma que me marcou bastante: L5R com o próprio John Wick. Foi um sonho sendo realizado, graças ao Allan, Alexandre e Fernanda do Diversão Offline!

Personagem mais maneiro: De jogo? Eu tinha uma paladina de quem me afeiçoei muito porque ela era TUDO, menos uma paladina. Bom, eu estava iniciando no D&D e meu personagem morreu quando o seu deus (Torm) desistiu dela e retirou seus poderes… Foi um fim bem “fuén”, mas era divertidíssimo ter um personagem tão insolente nas mãos.

Aventura mais épica: Com certeza a websérie Épica das Galáxias (disponível no YouTube!), que eu dei um treinamento de RPG. Apesar de não estar jogando, achei incrível como os atores criaram personagens maravilhosos a partir de um trabalho de campo e imersão que realizamos juntos. Fiquei orgulhosa de mim mesma!

Em qual história consagrada gostaria de trabalhar: Acredito que estaria em alguma obra vampiresca de Charlaine Harris, preferencialmente na pele de alguma criatura bem subversiva…

Sobre Janary Damacena

Janary Damacena escreveu 163 posts neste blog.

Sempre interessado em narrações fantásticas e de horror, apreciador de boa interpretação e defensor da regra de ouro.

Comments

  1. Que fera! Fiz a pré-venda, estou lendo e achando sensacional tanto a ambientação quanto a mecânica de GStQ. Parabéns, Carolina, Júlio e todo o time da Redbox.

    1. Aconteceu o mesmo comigo Zé! Comprei na pré-venda e li todo o material que saiu, gostei bastante da ambientação – acho incrível essa pegada de aventura e ação à lá Indiana Jones. O sistema de regras me agradou bastante por não ser complexo e resolver bem as situações do cenário. Em tempo: vou narrar uma mesa com a aventura oficial “Em busca da máscara de Anúbis” no próximo Encontro D30 🙂

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